Perini, Mário A. Sobre língua, linguagem e
Linguística: uma entrevista com Mário A Perini. ReVEL. Vol. 8, n. 14, 2012.
INSS 1678-8931 [www.revel.inf.br].
O que é língua?
É uma competência inata e abstrata que está
enraizada na cultura e é formada por um sistema muito complexo: fonético,
morfológico, sintático, textual, contextual e discursivo. A língua é a
habilidade que nasce com a pessoa e que é responsável pela comunicação, e esta
é adquirida por observação, assim como fazem as crianças.
Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade?
Língua é
uma das inúmeras manifestações de linguagem. Sendo assim, a sociedade necessita
da linguagem para que exista uma relação entre os homens, e a principal
manifestação que impulsiona isso são as línguas. Elas são a imagem que um povo
tem de si, confunde-se com a maior parte da cultura desse povo e é uma arma
política poderosa.
Há vínculo entre língua, pensamento e cultura?
Sim. A língua é um dos instrumentos com o qual o
pensamento se expressa e também uma maneira de organizar a realidade. Em
relação ao vínculo entre língua e cultura, ela se dá devido ao fato de as
manifestações de base linguística estarem inseridas na cultura.
A linguagem tem sujeito?
“Sujeito” é um termo muito amplo e não permite uma
resposta exata para esta questão.
O que é linguística?
É o
estudo dos códigos usados pelas pessoas para se comunicarem, e da capacidade
inata que nos permite levar a efeito essa atividade.
Linguística é ciência?
Pode ser considerada uma ciência empírica, focada
em descrever o universo e criar teorias que expliquem tais fenômenos. Então a
linguística é uma ciência na medida em que se ocupa sempre, ou seja, do estudo
de dados reais, tirados do uso normal das línguas.
Para que serve a linguística?
Serve para aumentar nosso conhecimento e nossa
compreensão de alguns aspectos do mundo e também para descrever e explicar o
fenômeno da linguagem, na medida do possível.
A linguística tem algum compromisso necessário com a educação?
Como
ciência não tem compromisso com a educação, mas os linguistas, como cidadãos,
sim. As principais aplicações do conhecimento linguístico se voltam para
questões educacionais, tornando linguística e educação ligadas de perto na
prática.
Como a linguística se insere na pós-modernidade?
Pode-se
explicar através de três sentidos em que se emprega o termo “pós-modernidade”.
O primeiro é um movimento que possui objetivo de subordinar o trabalho
científico a considerações de ordem ideológica, com o interesse de fazê-lo
politicamente correto. No segundo, a pós-modernidade se refere à tendência de
abandonar a ideia de ciências autônomas para concentrar atenção nas áreas
chamadas interfaces, negando-se às vezes a possibilidade de estabelecer
limites, promovendo uma interação cada vez maior com as áreas antes
consideradas marginais. E o terceiro sentido, mais visível no campo da análise
do discurso, refere-se a adaptar à linguística certas ideias sobre ciência em
geral, às vezes conhecidas sob o rótulo de “construtivismo social”.
Quais os desafios da linguística para o século XXI?
Um dos desafios é valorizar mais o trabalho
descritivo frente à elaboração de teorias e modelos de análise. Outro desafio é
que, como com as demais ciências, ela se redefina à medida que o século avança.
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